"Não quis fazer da folha de papel o meu espelho...”
Não quis fazer da folha de papel o meu espelho. As letras que escrevia não tinham mais sabor a verdade do que a ficção que costumo ler nos horóscopos. Ou pelo menos gostava de pensar que assim o é. Ainda assim e sem saberes, insistias periodicamente em olhar por cima do ombro. Discretamente, como a educação obriga, procuravas duas palavras que fizessem sentido, um verbo que indicasse o caminho para a tua compreensão, um adjectivo que caracterizasse a tua percepção do texto.
Eu não parava de escrever por isso. Não parava quando te sentia aproximar mais. Abrandava somente! Deixava que o fluir das palavras fosse comprometido pelo teu respirar no meu ombro.
- O que estas a escrever? – perguntavas-me tu.
- Nada de especial – e fingia olhar para o infinito como se procurasse as palavras que me faltavam. Que fingia me faltar!
- É segredo?
- Por enquanto... - e fazias aquele ar de criança contrariada a quem não se dava o brinquedo.
Respondi-te à letra: - Se te portares bem depois partilho contigo.
E agora, em campo aberto, respirando fundo, sempre contigo na mente, libertei de novo a caneta em acto de bravura e comecei pela terceira vez:
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